terça-feira, 16 de agosto de 2011

Arqueologia

Lâmpada viva,
retina de suor,
na lápide do que viveu
e virá,
guarda sonhos mortos,
recém-nascidos,
de medo e esperança,
a mesma dança
no luto e no riso
verdadeiro,
traz no peito
o punhal fino
da poeira,
e o bafo do açude
onde mergulhava bonecos de chumbo,
o sal dos tiros das arribações,
irmãos caídos
no peso imenso
do céu,
no pedaço da estrada
sem volta do edifício moderno.

Conta no intacto branco
das linhas leves e desumanas
o rubor da face descascada
do tempo do pai e do filho,
dos filhos não contados,
das mães esquecidas,
dos abismos de terra e cal,

No segredo da laje
inscreve o ouro de dias nada pacíficos,
faz jorrar a república
da terra vermelha que
roga a sede e a sentença do homem,
leva-o até os últimos portais da odisseia,
para sentir leve nas narinas as nuvens
algozes de lágrimas evaporadas,
como um ícaro maltrapilho,
a pureza e o açoite do aço
e do concreto armado,
donde enseja seu voo noturno,
circunscreve o espírito de quem veio
aqui com o ardor e a fome do trabalho nas costas.

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