terça-feira, 16 de agosto de 2011

Arqueologia

Lâmpada viva,
retina de suor,
na lápide do que viveu
e virá,
guarda sonhos mortos,
recém-nascidos,
de medo e esperança,
a mesma dança
no luto e no riso
verdadeiro,
traz no peito
o punhal fino
da poeira,
e o bafo do açude
onde mergulhava bonecos de chumbo,
o sal dos tiros das arribações,
irmãos caídos
no peso imenso
do céu,
no pedaço da estrada
sem volta do edifício moderno.

Conta no intacto branco
das linhas leves e desumanas
o rubor da face descascada
do tempo do pai e do filho,
dos filhos não contados,
das mães esquecidas,
dos abismos de terra e cal,

No segredo da laje
inscreve o ouro de dias nada pacíficos,
faz jorrar a república
da terra vermelha que
roga a sede e a sentença do homem,
leva-o até os últimos portais da odisseia,
para sentir leve nas narinas as nuvens
algozes de lágrimas evaporadas,
como um ícaro maltrapilho,
a pureza e o açoite do aço
e do concreto armado,
donde enseja seu voo noturno,
circunscreve o espírito de quem veio
aqui com o ardor e a fome do trabalho nas costas.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Paisagem

Incêndios em todo horizonte:
poderia ser terra arrasada
de algum oriente médio oportuno,
mas é o exótico comum de nossos olhos

quarta-feira, 8 de junho de 2011

pensamiento I

Há coisas que duram para sempre

e outras que acabam.

metade da vida é assim,

metade é nada...

terça-feira, 24 de maio de 2011

Levidade

Como a chuva que nos dias de calor me abriga,

recebo teu verbo,
teu corpo
e tua esperança:

aragem

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Trajetória

Me passa pelos ombros,
pássaro rebelde,
me diz de soslaio e sopro
a magnitude desse céu

E se enfio meus pés na terra,
meio plantio, meio povoado,
é porque tuas asas
deliberam com meus olhos
o traçado desse voo

E vou em ti,
alada festa,
contemplar de brisa
o ardor do sentido
como só teu peito
de pomba
sabe ser

terça-feira, 12 de abril de 2011

AGORA

Dê-me o presente
vento de flores ressentido
só o presente
pérola do bem vindo
ouro do porvir

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Pequenino

Pequenino cristal

envolto em máquinas,

sobrevive no resfolegar de

seu vapor mineral,

pequeno, pequeníssimo cristal,

liga seu inacreditável existir

ao dos homens,

conforme o milagre

da nascença – humana –

porque esse cristal não nasce,

nem brota, como brotam tantas coisas mais,

despercebidas, aleatórias.

Esse cristal reflete o medo do mundo

e seu tremendo gozo,

ou a ausência de dor,

ou o desamor

ou o desapego.

Esse cristal não é,

nunca foi,

algo de que pudéssemos falar

“pesa o dobro do que vale”

porque carrega propriedades

Que não são da pedra,

Pode sangrar, acreditar

E morrer.

Esse cristal é a essência do que

se faz essência, em nós,

e nossos olhos refletem,

cansados, a beleza exuberante

de suas curvas retilíneas,

de sua forma lindamente deformada.



Esse cristal pulsa a marca

do que nos iguala,

seu brilho

jamais é visto,

jamais.


Mas nós o carregamos.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

o que vem

Clima de novos tempos
esculpidos nas nuvens,
na vista tão cinza dos dias,
anúncio da perenidade
do estio?