segunda-feira, 16 de agosto de 2010

O menino e o velho

Não mais aquele velho de menino,
agora um menino velho
[que não consegue descansar
com os dois olhos fechados;
guarda-lhe o repousar do dínamo,
guarda-lhe a ofensa
da vida em confortável inércia,
[tudo aquilo que pensamos e vivemos
reveste de flores um túmulo futuro.

É essa experiência desgarrada
e imatura que envelhece
o rosto – e a alma –
desse menino temporão,
gasta-lhe os olhos
de tanto ver
e desejar
[faz-lhe querer muito,
apaixonar-se
fenecer.

Como um sol...

[e não pense que lhe chega este fogo]

Existe quem viva mais de uma vez,
até mesmo quem nunca viva,
só não disseram a este menino
que qualquer que seja a vida,
existe em sua lei o ensejo
de que acabe,
de que se morra,
que se sinta a dor
inútil e suprema
de não mais ser.

Dessa dor é que escapa
docemente,
como um verso,
o menino.

Solta ares de liberdade,
bolhas alegres,
de um ar poluído,
solta-se leve no chumbo
dos dias,
aguarda, dissolvente,
a hora certa
de atrasar
- mesmo com medo -
o limite que jamais lhe não basta.


Junho/2010

Ensaio I

Meu pensamento é um objeto desejado,
horas pelejo para encontrá-lo;
muitas vezes se bate em mim
como onda na ressaca

Me gasto inteiro,
na discreta explosão do fósforo,
- não existe mais poesia que interesse –
gasto meu último verso para defender
o indefensável,
e o mundo inteiro se diverte
ao me ver arder
ensandecido pela rua,
meio palhaço,
meio louco,
embriagado de um silêncio estrondoso
e de uma imensa paralisia...

Brevidade?

Escrever no curto espaço do tempo
a imensidão do oceano que cala
aqui