Não mais aquele velho de menino,
agora um menino velho
[que não consegue descansar
com os dois olhos fechados;
guarda-lhe o repousar do dínamo,
guarda-lhe a ofensa
da vida em confortável inércia,
[tudo aquilo que pensamos e vivemos
reveste de flores um túmulo futuro.
É essa experiência desgarrada
e imatura que envelhece
o rosto – e a alma –
desse menino temporão,
gasta-lhe os olhos
de tanto ver
e desejar
[faz-lhe querer muito,
apaixonar-se
fenecer.
Como um sol...
[e não pense que lhe chega este fogo]
Existe quem viva mais de uma vez,
até mesmo quem nunca viva,
só não disseram a este menino
que qualquer que seja a vida,
existe em sua lei o ensejo
de que acabe,
de que se morra,
que se sinta a dor
inútil e suprema
de não mais ser.
Dessa dor é que escapa
docemente,
como um verso,
o menino.
Solta ares de liberdade,
bolhas alegres,
de um ar poluído,
solta-se leve no chumbo
dos dias,
aguarda, dissolvente,
a hora certa
de atrasar
- mesmo com medo -
o limite que jamais lhe não basta.
Junho/2010
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