quarta-feira, 13 de maio de 2020

o q virá?


Acordo, o susto desse sonho
é tão mais medonho por nos fazer
entender que aquilo tudo não foi pior
do que podia ser.
Antigos egoísmos podem ser repaginados,
revividos;

infinito é o talento humano para distorcer percepções, apontar em direções ambíguas,
interesse de poucos sobre o morticínio de muitos.

É possível que o caminho esteja ainda mais distante.

Precisamos então saber do eu
no quanto pertence ao nós,
só correr o rio para a nascente
no que for para encontrar seu mar,
com entrelaçados caminhos,
deixamos de ser subtraendos
do salto.

A coragem pode fazer acontecer,
basta a semente
brotar onde sempre esteve,
e em que lugar mais
que não aqui dentro?

Porém essas árvores
que podem nascer em cada um
precisam formar florestas
ou perderão sua razão de ser.

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

perspectiva

que lugar mais certo
p enxergar a mansidão
q o cerne da ventania?

[o contrário não forçaria nossas vistas
ao espetáculo da destruição]

q saber mais exato
nos trará o doce
no ápice de nosso amargor?

que ilusões,
que dores mais humanas
são tão fiéis à vida
quanto o sopro silente
de meu peito que só eu sei
que dói e essa dor é um bem querer?

fazemos traços no deserto,
com o esmero da arte do não se perder;
um grito, o silêncio da multidão,
o gesto, o aceno sem vista,
a distância, os olhos
feridos pelo ardor de
tentar enxergar
sóis sem o distrair de nuvens.

um pássaro alça as alturas
no meio da imensidão,
nossos olhos estão nele,
em seu colorido de força,
não vemos que o suor
das asas seriam desafios
sem direção
se não houvesse o espaço
a lhes dar no voo a exata dimensão
da liberdade.

terça-feira, 29 de novembro de 2016

corcovados

viemos de tão longe
ver o que ele via,
seus olhos de pedra fixavam
as pupilas no eterno azul
desse horizonte,

ouvi de seus lábios
um murmúrio inaudito,
misto de prece e lamento,
qual o canto de pássaros outrora livres

"tantos fardos esses pregos carregam;
 livre me vi no corpo que ia"

calado, engolindo gritos
como uma caverna
engole ventos,
aqueles olhos lhe sorriam
uma morte vagarosa
um pavor sólido,
esculpindo em seu corpo
o frio dos ferros e das pedras,
suas vísceras domando o inorgânico
afeto da tortura.

Assim nos fez sofrer por sua sina
de trazer o ouro em arcas que se afundam
em distraídos oceanos,
cujo maior valor carrega ao fundo.

Reticente, aos poucos se afasta
dessas esferas de ar e fumo,
nelas se confunde ao contorno
indefinível de sua alma,

ascende em espírito dentre tantos
que lhe façam companhia
nesse inferno terreno,
devotando-lhe estátuas e sonhos.

o giro

mudam as cores
as flores, os ventos,
até os odores;
a grandiosidade de cada dor,

mudam nas correntes invisíveis,
que a despeito de nos prenderem,
indicam caminhos de leveza
e liberdade,

mudam outras correntezas,
dos mares e dos amores,
carregam tristezas e virtudes,
deleites e maldades,

mudam meus olhos
q veem iguais sementes
lançadas em campos diferentes
florescerem ardores semelhantes
e suaves,

mudam todas as intempéries,
que se renovam bons ventos,
árvores, cactos, marés,
veios que se abrem
em desafio à imensidão,

tudo muda e meu coração
também; mas seu sangue será sempre vermelho
de abundância e sofreguidão.

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

terça-feira, 25 de outubro de 2016

noturno

me faz esquecer
o frio cortante
de uma noite
nem tão distante,
em que corríamos nas ruas
como fugitivos;

vimos nos olhos das crianças
fantasmas traiçoeiros,
arejamos o medo,
a covardia,
respiramos
sórdida neblina,
como cegos,
tateamos certezas..

Primaveras dardejantes
se desfazem ao som de gritos,
daqueles de quando matamos e morremos,
de quando dilaceram corpos
e ferem além a alma
de tantos quantos forem necessários
para se fazer entender
que são sonhos.

E nos acordam
em busca de ar
pelo seio da noite
- sem maldições -
cumprindo destinos.

não vou enlouquecer

se é o que querem,
que me dispa de toda razão
e me iguale, não haverá êxito.
meu ar é maior que o fôlego
sobrehumano
de um pai,
meu sangue,
vertiginoso
em tantos cálices,
nem me faz saber a quem
atribuir aquele beijo,
ou aquela saudade,
o vazio que céu algum é capaz de esgotar,
meu grito
vale os semblantes cansados
que vejo todos os dias no caminho,
nos olhares desse passar..
grande ausência,
amiga
assídua,
diz, para que os ouvidos não pereçam:

"sou tua mãe e tua mulher,
sou tua filha
e tua incessante descendência,
vivo no teu útero,
venho de ti e viverei
muito além de teu viver,
sou tua força
quando quedas
na emboscada
o que te levanta,
teu espírito,
teu maior desejo".

Da guerra jamais
retirarão
minha alma,
cada lança dessa madeira-de-lei
tem destino certo,
enlouquecer
desse senso comum,
das justaposições da realidade,
das fraturas abertas,
do magma que escorre
na pele e nos campos,
nos olhos, o sol que arde
em nós,
os caminhos abertos
mostram que o amanhã
não tarda.

não nos perderemos em meio aos sentidos,
a brisa,
o toque macio do amor,
o verbo de sentinela e zelo;
em meio a dor,
minhas
estrelas-guia